29 de junho de 2010

O QUE JÁ ROLOU NO ALL OF JAZZ



Inaugurado em agosto de 1995 sempre com shows diários e artistas diferentes, vocês podem imaginar a quantidade de apresentações que já tivemos.

Nossa programação nunca se repete durante o mês. E a agenda está sempre lotada, adiantada em uns 2 meses...

Como consideramos a Bossa Nova uma "vertente" do Jazz, as apresentações vão desde suas várias expressões até a MPB de nossos gênios.

Isto sem contar com nossas "Semanas Temáticas" com shows homenageando algum ícone da boa música popular.  Temos as semanas "Tom Jobim", "Elis Regina", "John Coltrane", "Caymmi", "Dick Farney" e por aí vai...


Aqui vai uma pequena amostra.


Michel Freidenson Jazz Trio - Don´t Misunderstand




Rosa Estevez - Acaso



Jane Mara & Helio Delmiro- Jade (João Bosco)



Dabus Brothers - Little Tears




Improvisório - Ponteio



Hector Costita & Joseval Paes - Adios Noniño



Mara Nascimento - Summertime



Monica Elizeche & BoleroJazz - What a Difference a Day Makes




E tem muito mais... Vocês podem achar no Youtube mais de 300 (!!!) vídeos gravados na casa.

27 de junho de 2010

EDWARD KENNEDY ELLINGTON - DUKE ELLINGTON



Caramba!!! Não sei se estou equivocado, mas me considero uma pessoa reservada, recatada, controlada e que jamais poderia ter atitudes oportunistas, egoístas e interesseiras, mas enfim, posso estar enganado...

Ano de 1971, me preparei para uma noite muito especial e que exigia que me vestisse de uma forma charmosa e elegante. Aproveitei a ocasião para estrear meu novo terno escuro com listras de giz e discretas, adquirido na loja Garbo. Evidentemente minha camisa social era modelo especial da Raphy e sapatos pretos devidamente engraxados.

Lá fui eu todo orgulhoso e ansioso para o famoso Teatro Municipal de São Paulo em direção a uma noite soberba e inesquecível. Diante da bilheteria meu mundo caiu (desculpe-me Maysa), pois obviamente todos os ingressos estavam esgotados.

Saí decepcionado, vagando sem direção quando percebi um aglomerado de pessoas na rua localizada atrás do teatro. Era a delegação dos músicos chegando aos bastidores do teatro e fui atrás, pelo menos poder vê-los ao vivo.

Consegui me espremer, me enfiando no meio daquela multidão, mesmo amassando meu terno novo e cheguei até a porta de entrada dos músicos para admirá-los e no meio daquele empurra, empurra, e de repente... estava eu no palco do Teatro Municipal, atrás das cortinas, mas com visão plena para estar ao lado e contemplar Duke Ellington interpretando magistralmente Take the A Train, Solitude, Mood Indigo, Sophisticated Lady, Lush Life, Caravan...




Foi um momento mágico! Eu, ao lado de Duke, como sempre elegantemente vestido com seu terno escuro e sua camisa social lilás, sorriso simpático e contemplando aquela platéia totalmente hipnotizada por sua música envolvente.

Já pensei e refleti muito, mas até hoje não sei como fui parar no palco do Teatro Municipal, e sem ser molestado por ninguém durante o show... só pode ter sido uma ajuda a mais do meu amigo e fiel Anjo da Guarda.

Quando falamos em Band Leader de jazz, sempre vem à tona Duke Ellington e Count Basie. Desde minha adolescência sempre preferi Count Basie à Duke Ellington, talvez pelo fato de de que meus LPs de Duke Ellington terem sido adquiridos em liquidação....

Continuei preferindo Count Basie, até o dia em que conheci dois LPS maravilhosos e imperdíveis de Duke Ellington e mudei de opinião, pois conclui que Duke Ellington foi, é e sempre será o maior band leader da história do jazz. Estes LPs foram "Ellington Índigos" de 1957 e "Duke Ellington & John Coltrane"  de 1962 (como de hábito, meu ídolo Coltrane sempre influenciando minhas decisões).



Edward Kennedy Ellington nasceu em 29 de abril de 1899 em Washington, filho de um desenhista da marinha dos Estados Unidos e também mordomo da Casa Branca. Recebeu o apelido de Duke de um amigo de infância pelo fato de se  vestir de uma forma extremamente charmosa e elegante.

Como seus pais tocavam piano, Duke começou a estudar piano aos 7 anos, tornando-se profissional aos 17. Estudou na Armstrong Manual Training School, e no tempo livre ouvia pianistas de ragtime em Filadelfia e começou a atuar em cafés e bares da cidade.

Na década de 20, mudou-se para New York, onde viveu sua fase mais marcante e importante, realizando concertos memoráveis e inesquecíveis no Carnegie Hall, e também se apresentando no Cotton Club no Harlem de 1927 a 1932, acompanhando cantores e bailarinos nas interpretações que levantavam o público para dançar.


Um de seus ídolos e incentivadores nos primeiros anos de New York foi o grande pianista e compositor Fats Waller. Duke entra em contato com sons novos, diferentes do ragtime de Washington e Filadelfia e passa a ouvir os pianistas do Harlem e o som inovador de Sidney Bechet e Louis Armstrong.

Duke realiza uma longa e bem sucedida temporada pela Europa e de volta aos Estados Unidos em 1939 sente-se pela primeira vez respeitado como homem, músico e artista, e conhece em  Pittsburgh o prodígio do piano Billy Strayhorn que seria seu fiel parceiro e colaborador musical por toda a vida.


Durante toda a sua vida gostou de fazer música experimental, gravando com John Coltrane e Charles Mingus, e entre os grandes nomes que tocaram com ele e deram à banda sua identidade estão: Ben Webster, Jimmy Blanton, Cootie Williams, Paul Gonsalves e Johnny Hodges.

A música de Duke Ellington foi uma das maiores influências no jazz desde a década de 20 até 60 e é considerado o maior compositor de jazz americano de todos os tempos, com aproximadamente 3 mil composições. Entre seus grandes sucessos estão "Take the A Train" (letra e música de Billy Strayhorn relembrando a linha A do subway que conduzia o pessoal ao Cottom Club no Harlem), "Satin Doll", "Mood Indigo", "Caravan", "Sophisticated Lady", e "Solitude".






Apesar da grande competência musical dos membros de sua banda, eles eram dotados de uma certa ingenuidade e para motivá-los antes dos shows, Duke sempre os desafiava “insinuando” que o solo de um  deles seria bem melhor que o dos outros...

Nas décadas de 60 e 70 Duke fez várias turnês internacionais, do Japão à América Latina e sua orquestra veio ao Brasil em 1968 e 1971. Além dos concertos sacros, fez nesse período as trilhas dos filmes "Anatomia de um Crime" (1959) e "Paris Blues" (1961).

Duke  ausentou-se para reger um concerto eterno em 24/05/74, vitima de câncer e sendo enterrado no Bronx em New York. Quem for ao Central Park, no cruzamento da 5th Avenue com a 110th Street poderá contemplar uma majestosa escultura de Duke ao lado de seu grande e inseparável amigo, seu piano,  inaugurada em 1997.

26 de junho de 2010

CHESNEY HENRY BAKER JR. - CHET BAKER



Incrível!!! João Gilberto cantando jazz e em inglês...

Inicio da década de 60, como sempre antenado nas emissoras de rádio, ouço João Gilberto interpretando My Funny Valentine e fiquei extasiado e hipnotizado.

Todo empolgado comentei com meus amigos também ligados em música, minha nova descoberta. Incrível, pois ninguém conhecia...

Determinei que seria um desafio e uma obrigação para mim mesmo, descobrir e comprar este disco do João Gilberto, pois era uma necessidade emocional muito forte e intensa ouvir esta gravação novamente, over and over again.

Apelei para o óbvio, e fui percorrer as lojas especializadas em música em São José dos Campos, onde morava, e nada...

Apelei novamente para o óbvio plano B e fui garimpar as lojas especializadas no gênero em São Paulo.

Após várias decepções, finalmente na famosa loja Breno Rossi (ou Bruno Blois?) lá no centro de São Paulo, o simpático atendente disse que tinha o que eu procurava.

Fiquei estupefato e meio incrédulo, senti meu coração disparar e o atendente percebendo meu estado emocional, disse que iria tocar o disco para mim.

Inacreditável, verdade!!! Fiquei arrepiado, pois era esta mesma gravação que eu tinha escutado e amado.

Então, adquiri o primeiro de uma longa série de LPs, CDs e DVDs de Chet Baker que orgulhosamente fazem parte do meu acervo.

Graças à Breno Rossi (ou Bruno Blois?), o enigma foi solucionado...

Chesney Henry Baker Jr. nasceu em 23 de dezembro de 1929 em Yale , Oklahoma, criado em uma fazenda até os dez anos, e no final dos anos 30 vai para Los Angeles estudar música, devido influência de seu pai, um modesto guitarrista.

Começou a tocar trompete durante sua adolescência e jovem, passou a integrar o grupo de Stan Getz, mas só atingiu o sucesso depois do convite de Charlie Parker em 1951 para uma série de apresentações na costa ocidental. Em 1952 ingressou na banda de Gerry Mulligan lançando o sucesso e sua primeira versão de My Funny Valentine, mas logo o grupo encerrou suas atividades devido problemas de Gerry com drogas...e neste momento estava nascendo o grande e eterno problema de Chet.

Em 1953, gravou o LP de 10 polegadas "Chet Baker Sings" com recorde de vendas e destacando novamente sua interpretação vocal em My Funny Valentine. Então, com 24 anos Baker foi eleito o melhor trompetista do mundo, ultrapassando Louis Armstrong, Miles Davis e Dizzy Gilespie. 









Não sabia ler partituras, mas era dotado de extrema criatividade, inaugurando um modo de cantar no qual a voz era quase sussurrada e vinha do fundo da alma. Dizem que Chet teria exercido grande influência em João Gilberto, mas dizem também que Chet foi muito influenciado pelo acordeonista e cantor deficiente visual, Joe Mooney nascido em 14/03/11 em New Jersey...

No início de 1960, ficou preso na Itália por mais de um ano por porte de drogas, e após seu julgamento e libertação tornou-se um ícone artístico e parecia ter toda a Itália a seus pés e em março de 1964 foi deportado da Alemanha para os Estados Unidos e no final dos anos sessenta suas gravações foram decepcionantes e muitas vezes constrangedoras.

Chet morava em New York e Los Angeles até 1968, e quando se mudou para São Francisco foi assaltado por criminosos, perdendo muitos de seus dentes o que veio a prejudicar sua performance musical.

Retornou à Europa em 1975, onde residiu até sua morte, retornando aos Estados Unidos aproximadamente uma vez por ano, para alguma apresentação de pouco destaque

Seu perfil: chamado de "demônio com cara de anjo" em um tribunal italiano, humilhado profissionalmente nos Estados Unidos e na Europa no auge de seu sucesso, homem de poucas palavras e notas angustiantes, inspirador dos anúncios da Calvin Klein, considerado James Dean do jazz, imitado por Matt Damon ao cantar My Funny Valentine no filme O Talentoso Rippley, ignorado por Ken Burns no premiado e excelente trabalho sobre jazz "The Story of American Music", personalidade dupla contrastando a suavidade e beleza de seu som com seu mal caráter, teve como herói musical Miles Davis e apresentou sinais de demência vivendo isolado nos últimos três anos de vida.

The "Last Great Concert" foi seu último álbum gravado e ao vivo na Alemanha em 28/04/88, onde interpretou magistralmente My Funny Valentine, sua primeira gravação que ajudou a torná-lo famoso em 1952, foi também sua última canção.



Chet foi rever seus amigos de forma trágica e misteriosa, na madrugada de 13/05/88, quando despencou da janela de um hotel em Amsterdã. Até hoje existem muitas controvérsias sobre a causa de sua viagem: suicídio ou acidente?

JOHN WILLIAM COLTRANE - JOHN COLTRANE



É difícil, é muito difícil eleger o melhor entre os melhores, e escolher o maior entre os maiores. A tendência natural é permanecer em cima do muro e eleger um elenco dos melhores e maiores... mas tomando o devido cuidado para não acusar quem é o melhor e o maior.

Após mais de 30 anos em cima do muro, finalmente consegui eleger Andorinha, gravada originalmente no álbum Stone Flower como a melhor composição de Tom Jobim, o que foi um alívio para mim.

No mundo do jazz, que é meu gênero musical favorito, para eleger o melhor realmente é necessário muita coragem... enfim, meus ídolos estão sempre desfilando em todos ambientes que frequento, e como sempre todos se superando musicalmente.

Ao piano Oscar Peterson, Bill Evans, Keith Jarrett e Herbie Hancock, ao sax Ben Webster, Coleman Hawkins, Lester Young, Dexter Gordon, Charlie Parker, John Coltrane, Sonny Rollins e Wayne Shorter, ao trompete Lee Morgan, Miles Davis, Chet Baker e Freddie Hubbard, cantando Billie Holiday, Sarah Vaughan e Johnny Hartman. E agora...

Vou ter que respirar fundo, ser ousado e eleger o gênio do sax tenor John Coltrane como meu ídolo e colocá-lo em uma posição de destaque com relação aos outros gênios do jazz.

Como sempre, fui apresentado ao John Coltrane naquela mesma lojinha da Rua 7 de Abril onde também conheci Charlie Parker. Um LP de capa preta  intitulado "Stardust" gravado em 1963, ouví e amei desde a primeira vez aquele sopro envolvente, contagiante e um pouco hipnótico.



As pessoas quando telefonam ao All of Jazz no período diurno, antes de terem o prazer de falar com minha secretária eletrônica ouvem Coltrane interpretando Say it, over and over again, obra prima que está presente em meu álbum favorito de Coltrane intitulado "Ballads" e gravado em 1962.





John William Coltrane nasceu em 23 se setembro de 1926 em Hamlet, na Carolina do Norte, filho de um alfaiate que tocava violino e de uma doméstica que cantava no coral da igreja.

Na banda da escola tocava clarinete, mas decide trocá-lo pelo sax alto após ouvir Johnny Hodges tocando na banda de Duke Ellington. Após voltar da Marinha em 1946, Coltrane começa a tocar em diversos bares e clubes em Filadélfia, adquirindo então o vicio pelo álcool e heroína.

Em 1949, recebe convite de Dizzy Gillespie para tocar saxofone em sua Big Band, onde permanece até 1951.

Em 1955 recebe convite de Miles Davis para integrar um novo grupo que Miles estava formando, com o pianista Red Garland, o baixista Paul Chambers e o baterista Joe Jones, constituindo assim o famoso Miles Davis Quintet. Em 1957 Coltrane é demitido por Miles e forçado a parar de tocar devido seus problemas com drogas, sendo então substituído por Sonny Rollins. 

Em 1959, Coltrane volta ao grupo de Miles Davis gravando o álbum "Kind of Blue," considerado o melhor e mais influente CD da história do jazz e coincidentemente também é o CD de jazz mais vendido em todos os tempos.

Em 1960 Coltrane deixa o grupo de Miles Davis e lança o LP "Giant Steps" com todas composições de sua autoria, apresentando um novo conceito de uso harmônico, conhecido mais tarde como Coltrane Changes. Várias faixas deste álbum tornaram-se standards, tais como Naima, Giant Steps, Cousin Mary, Mr.P.C., esta em homenagem ao amigo baixista Paul Chambers.












No final de 1960, inspirado na peça da Broadway The Sound of Music, Coltrane lança o álbum "My Favorite Things" (uma valsa de Rodgers & Hammerstein), tornando-se um grande sucesso, em uma época em que o sax soprano estava se tornando obsoleto, mas Coltrane demonstrou com ele uma inventiva habilidade para o idioma do jazz.




Em 1962, Coltrane grava o meu álbum favorito Ballads, cuja versatilidade é demonstrada pela nova roupagem que Coltrane deu aos antigos standards, tocando seu sax tenor, muitas vezes com som de sax soprano.

Em 1964 o lado religioso e espiritual de Coltrane o conduziu a gravar o álbum "A Love Supreme", baseado em poemas que Coltrane ofertou a Deus, alcançando um grande sucesso comercial. A Igreja Ortodoxa Africana Saint John Coltrane em São Francisco considerou Coltrane como santo em 1971, incorporando às orações religiosas sua música e seu poemas.


Coltrane faleceu de câncer no fígado em 17 de julho de 1967 aos 40 anos. Coltrane se tratava com um curandeiro hindu ao invés de recorrer a medicina convencional.     

CHARLES CHRISTOPHER PARKER JR - CHARLIE PARKER


Não adianta, eu não consigo... eu não consigo gostar do Charlie Parker.

Início da década de 80 e como quase todo sábado, fazia minhas garimpagens pelo centro de São Paulo na esperança de descobrir alguns LPs que representassem pérolas e raridades do jazz.

Nessa época, havia lojas bem estruturadas e super conceituadas como as famosas e inesquecíveis Breno Rossi e Bruno Bloes, mas como sempre, a ironia do destino acabava me conduzindo para uma lojinha cujo nome desconheço, localizada na rua Sete de Abril, quase em frente a TELESP.

Esta lojinha talvez fosse a maior distribuidora dos LPs do selo IMAGEM, que pertencia ao saudoso Jonas. Os LPs do selo IMAGEM eram super econômicos, nem sempre bem gravados, mas era possível encontrar títulos de quase todos os grandes intérpretes do jazz.

Foi lá que descobri os LPs de Charlie Parker, cujo músico conhecia apenas de nome, mas sabia que ele era considerado pelos críticos de jazz como um dos grandes talentos do gênero.

Ótimo!!!...Encontrei e comprei todos LPs de Charlie Parker que encontrei na loja, aproximadamente uma dezena de títulos e fui feliz para casa para curti-los durante todo o final de semana.

Escutei, ouvi, escutei...e não consegui gostar e entender “Bird”, famoso apelido de Charlie Parker pois suas frases musicais saiam de seu sax de uma forma esvoaçante e improvisada como se fossem pássaros ( dizem também que seu apelido foi consequência de um atropelamento de galinhas e ele aproveitou a oportunidade para fazer um banquete para os amigos músicos).

Após conviver intimamente uma semana com os LPs de Bird, voltei à lojinha da Sete de Abril no sábado seguinte para tentar devolver ou trocar os famigerados LPs.

Então, o senhorzinho que sempre me atendia falou: ”Não troque os LPs, o problema é que você ainda não entendeu a música de Charlie Parker. Ao ouvir Bird, concentre-se nele e procure esquecer John Coltrane, Sonny Rollins, Dexter Gordon, Ben Webster e imagine que a música de Bird é a única existente na face da Terra, e evite fazer comparações”.

Voltei para casa, reescutei os LPs, aprendi e compreendi a música de Bird, e finalmente descobri porque ele é considerado o maior improvisador do jazz de todos os tempos.

Na lojinha do All of Jazz, às vezes alguns clientes interessados em conhecer um pouco de jazz tentam comprar CDs de Charlie Parker, e após um exame de consciência, eu procuro desencorajá-los sugerindo que comecem com Paul Desmond, Coleman Hawkins, Dexter Gordon, Don Byas e talvez daqui a dois ou três anos possam se aventurar a conhecer um pouco de Charlie Parker.

Charles Parker Jr. nasceu dia 29/08/20 em Kansas City, Missouri. Seu pai, um bailarino de sapateado bebia demais e largou a mulher antes de Charlie completar 11anos. Ganhou um sax de sua mãe aos 13 anos, inspirou-se em Buster Smith  e aos 15 anos abandonou a escola, incorporou-se a banda local e começou a beber e fumar maconha. Casou-se aos 16 e tornou-se pai aos 17 anos.

Separou-se e foi para New York e nunca mais voltou. Personalidade magnética, tinha uma nova abordagem sobre música, um dos criadores do bebop, um estilo oposto ao espirito do swing e que exigia uma técnica musical muito desenvolvida. Toda vez que tocava estava compondo....e dizia: “improvisar é compor”.

Bird adorava os quintetos clássicos e em 1947 formou um novo grupo com a nova “promessa” do trompete Miles Davis de 21 anos a quem chamava de Junior, e gravaram “Embraceable You”, considerada exemplo de improvisação através de suas frases embraçadas.



Em 1949 foi construído o night club “Birdland” em sua homenagem e logo após em 1951 Charlie perderia sua licença para tocar devido ao consumo de drogas.



Bird e Dizzy após sucesso em New York foram para a Califórnia, mas o vício pela heroína estava acabando com sua vida. Todos os fãs e músicos também queriam usar heroína , para tocar como Charlie Parker.




Lover Man foi a gravação mais catastrófica do mundo...Bird chegou atrasado ao estúdio, todos esperando e tentou tocar sem o seu “remédio”, Saiu do estúdio e foi internado no hospital Camarillo.

Voltou sóbrio, longe das drogas e fez em 1949 sua primeira turnê internacional. Após duas turnês europeias, seu produtor musical Norman Grant formou um conjunto de cordas para acompanhá-lo, o que mostrava seu amor pela música erudita.

Bird disse que quando viajava com seu grupo de cordas, se comportava muito bem, respeitava horários, sempre bem vestido, usava poucas drogas e tentava compensar com o vinho tinto.

Não ouvia jazz em casa, só música erudita, de preferencia Stravinsky e Beethoven.  Interessou-se pela pintura, tinta a óleo e fez um quadro “Round Midnight” com vistas de New York e um auto retrato com seu sax, que não gostou e provavelmente jogou fora. Bird sentia que cores e sons estavam intimamente relacionados.

Considero seu melhor trabalho o álbum “Jam Session”, gravado em julho de 1952 em Los Angeles no Tiffany Club, unindo três grandes gênios do sax alto, Charlie Parker, Benny Carter e Johnny Hodges, cada um desfilando seu estilo pessoal.


Em 1954 quando a Time Magazine colocou Dave Brubeck na capa, os amigos de Bird o questionaram, porque não ele e Bird respondeu: “meu relógio está sempre parado, nunca chego na hora”.

No final de sua vida, Bird tocava em bares que eram como lojas vazias, e o vinho barato piorou sua úlcera e houve uma tentativa de suicídio.

Bird fez sua última apresentação no Birdland em 05/03/55 e faleceu 8 dias após na casa da baronesa Nica de Koenigswater assistindo um programa de Tommy Dorsey na tV. O médico estimou sua idade entre 54 e 60 anos e atribuiu a morte à pneumonia.

Charlie Parker tinha apenas 34 anos...

ELEANORA FAGAN GOUGH - BILLIE HOLIDAY



...sol a pino, calor escaldante de 35º, final da década de 50 e íamos nós para mais um treino diário de futebol de salão a partir das 13h00 (a palavra futsal ainda não era conhecida). Infelizmente, às 18h00 éramos obrigados a encerrar o treino sob fortes protestos da turma (atualmente, nossos futebolistas geração bronze, apesar da alta remuneração, reclamam de ter que jogar duas vezes por semana!).

Entretanto, meu amigo Jota (*) não participava dos treinos, pois ele preferia ficar lendo e ouvindo LPs de música erudita e jazz. Eu achava estranho ele perder tempo daquele modo, mas aos poucos, fui descobrindo que o danado do Jota era o mais inteligente e maduro da turma.

Eu curtia Elvis Presley, Neil Sedaka, Brenda Lee, The Platters e somente engatinhava humildemente pelo mundo do jazz, graças a algumas dicas e desafios do perspicaz Jota.

No universo das grandes cantoras de jazz, eu já me sentia pós-graduado, já conhecia Ella Fitzgerald e até possuía um LP dela cantando Night and Day e também já conhecia Dinah Washington, pois tinha em minha coleção o LP "What a Diff´rence a Day Makes" que comprei de liquidação na lojinha do Branco em Itapetininga.

Mas novos desafios estavam por acontecer...

Novamente aparecia o Jota me trazendo uma grande novidade: “Esqueça Ella e Dinah e ouça Billie Holiday, pois essa é a maior cantora de Jazz”. Lá fui eu tentar descobrir um LP da Billie na lojinha do Branco, e o danado do Jota tinha razão. Ouvi, gostei e me encantei por Billie Holiday e até o presente momento, ela é minha cantora favorita de jazz e sua voz tem intimidade com a letra que canta. Billie com sua camélia branca iluminando seus cabelos, não improvisava muito como Sarah Vaughan, mas com sua irreverência, não acompanhava a melodia...

Sou leigo quanto a técnicas musicais, mas considero um bom vocalista quem consegue transmitir sentimentos, independente do grau de afinação e potência de voz. Para mim, Billie Holiday, Chet Baker e João Gilberto têm algo em comum, pois eles possuem um dom muito especial: eles cantam através da alma e não através das cordas vocais.

Após ficar envolvido por Billie, meu amigo Jota surgiu novamente com outra novidade: “Billie já era, o negócio é curtir Bessie Smith!”. Pensei um pouco... e respondi: “Agora é tarde Jota, pois já estou apaixonado por Billie”.

Nascida Eleanora Fagan Gough (Philadelfia 07/04/15 – New York 17/07/59), Billie Holiday foi criada em Baltimore por pais adolescentes e quando nasceu, seu pai tinha quinze anos de idade e sua mãe apenas treze.

Negra e pobre, aos dez anos foi violentada por um vizinho, aos doze trabalhava lavando assoalhos em prostíbulo e aos catorze anos, morando em New York caiu na prostituição.

Sua vida como cantora começou em 1930 em New York e seu aprendizado musical se deu ouvindo Bessie Smith e Louis Armstrong. Gravou seu primeiro disco com a Big Band de Benny Goodman e também cantou com as Big Bands de Artie Shaw e Count Basie.

Seu fraseado, emoção e sensualidade à flor da voz, a aproximaram do estilo do talentoso saxofonista Lester Young, com quem em quatro anos gravou cerca de cinqüenta músicas. Billie e Lester eram como irmãos, ele adorava a mãe de Billie e a apelidou de Lady Day e Billie herdou e se apoderou do apelido. Lester faleceu em março de 1959, e acho que Billie não teria falecido quatro meses após, se Lester ainda estivesse vivo.

Além de seu talento como cantora, Billie compôs uma dezena de canções, sendo as mais conhecidas Fine and Mellow, God Bless the Child e Lady Sings the Blues.






Billie celebrizou a música Strange Fruit, gravada em abril de 1939 e foi uma das canções mais famosas e premiadas de Lady Day. Sua letra, poema do judeu Abel Meerop sob o pseudônimo Lewis Allan, denunciou o racismo americano, principalmente o linchamento de negros que ocorreu no sul do país. Como hit mundial, Strange Fruit tornou Billie a encarnação da música engajada na época.




A partir de 1940, apesar do sucesso, Billie Holiday sucumbiu ao álcool e às drogas, passando por momentos de depressão que refletiram em sua voz. Mesmo assim, suas últimas gravações apesar de seu estado físico e emocional debilitados, são consideradas por muitos críticos como definitivamente as melhores.

Considero seu CD "Lady in Satin" gravado em fevereiro de 1958, dezessete meses antes de sua morte seu melhor trabalho. Duas músicas desse CD, I´m a Fool to Want You e The End of a Love Affair retratam e são um testemunho fiel de seu incomparável e inimitável estilo.






(*) J.Jota Moraes, conceituado escritor e crítico musical.

DAVE WARREN BRUBECK - DAVE BRUBECK



Ex-futuro cowboy, graças ao Bom Deus optou pela música, tornando-se um dos maiores pianistas da história do jazz. Dave Brubeck, nascido na Califórnia em 06/12/20 felizmente ainda continua vivo e tocando piano para surpresa de muitos. Normalmente há uma tendência de acharmos que todos os músicos da era de ouro do jazz estejam falecidos....

Início da década de 60, durante os bons tempos de faculdade, curtíamos os LPs de João Gilberto, The Mamas & The Papas, The Platters, Four Seasons... Mas havia um LP que era muito especial para todos nós. Além de sua capa ser magistral (gravura de Joan Miró), seu conteúdo está no mesmo nível de qualidade: "TIME OUT" com Dave Brubeck Quartet, lançado em 1959.



Provavelmente, este foi o LP de maior rodagem em meu pick-up durante a década de 60. No mundo do jazz, caracterizado pela pouca vendagem de discos, o álbum “Time Out” foi o primeiro LP de jazz que ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias vendidas.

No bar All of Jazz, sempre que algum “iniciante” vai até a loja, curioso por conhecer um pouco sobre o mundo do jazz e me consulta sobre um CD a ser adquirido, sempre o recomendo, pois eu também fui iniciado com “Time Out” e Erroll Garner.

A formação de ouro do Dave Brubeck Quartet era constituída por Dave Brubeck ao piano, Paul Desmond ao sax alto, Joe Morello na bateria e Eugene Wright no baixo acústico.


Após 16 anos, o Quarteto Mágico foi dissolvido em 1967, e os filhos de Dave passaram a integrar o novo Quarteto, o que causou uma queda na qualidade musical do Grupo. Não é só no Brasil que os filhos tentam destruir a obra musical dos talentosos pais...

"Time Out" contém composições de Dave Brubeck com destaque para “Blue Rondo a La Turk” e uma composição do saxofonista Paul Desmond “Take Five”, que por ironia do destino foi a música de maior sucesso não só do disco, mas também de toda carreira do Dave Brubeck Quartet. O sucesso de Take Five foi mundial, causando influencias em Roberto Menescal quando compôs “Adriana” e levando Paul Desmond a compor “Take Ten” que não teve maiores repercussões.






Novamente por ironia do destino, todos acham que “Take Five” foi composta por Dave Brubeck, tornando Paul Desmond um grande injustiçado, como já havia acontecido com Billy Strayhorn que compôs a famosa “Take the A Train” (acham que é de Duke Ellington) e com Francis Hime (acham que as músicas “Atrás da Porta”, “Trocando em Miúdos”, “Vai Passar” e “Apesar de Você” foram compostas por Chico Buarque, que apenas escreveu as letras).


Em 1961, dois anos após o lançamento de “Take Five”, é lançada outra obra prima do Dave Brubeck Quartet: “Time Further Out”, exibindo na capa outra gravura magistral de Miró, sendo todas as composições de autoria de Dave Brubeck, logo, desta vez Paul Desmond não seria injustiçado. O LP é todo ótimo, mas o destaque fica para “Far More Drums” e “Unsquare Dance”. Se algum dia eu apresentasse um programa de jazz em alguma emissora de rádio, o prefixo musical seria sem dúvida alguma ”Unsquare Dance”. Infelizmente o CD “Time Further Out” ainda não foi lançado no Brasil, mas poderá ser adquirido nas boas casas especializadas em jazz ou na vizinha, econômica e européia Buenos Aires por apenas 28 pesos (aproximadamente R$ 15,00).






Em 1954, Dave Brubeck e Duke Ellington que eram muito amigos, faziam turnês musicais juntos e a consagrada revista Time, não sabia quem colocar na capa da próxima edição. Às 7h00 da manhã, Duke Ellington bate na porta do quarto de Dave Brubeck no hotel e diz: ”Dave, você está na capa da Time”. Dave Brubeck mais tarde confessou a Duke: ”Fiquei arrasado, pois queria sair na capa da Time, mas não antes de você”.



Dave, filho de um fazendeiro e de uma pianista erudita começou a aprender piano aos 4 anos de idade com sua mãe, e sua musica refinada é uma mistura da musica clássica moderna com jazz. Mais tarde, o compositor francês e professor de Dave, Darius Milhaud o aconselhou: ”Viaje pelo mundo e mantenha os ouvidos abertos. Use tudo que ouvir de outras culturas e traduza para o idioma do jazz”. Foi assim que nasceu o hit ”Blue Rondo a La Turk” com fortes influências da música turca.

Atualmente, com 87 anos Dave encontra-se cansado, mas não deixa de tocar piano e gravar de preferência CDs solos, felizmente. Dave gravou recentemente o CD “Indian Summer” através da conceituada gravadora Telarc, interpretando ao piano solo standards de jazz e algumas composições originais.





Dave mostra-se bastante magoado pelo fato de não ter sido valorizado musicalmente por músicos famosos como Miles Davis, John Coltrane e também pelo fato de Bill Evans e outros pianistas de jazz não terem reconhecido que sofreram influências de sua obra musical.

A INICIAÇÃO

..era o ano de 1958, ano de ouro para o esporte brasileiro, quando brilhavam atletas não mercenários como Pelé, Garrincha, Maria Ester Bueno, Abílio Couto, Biriba, Cláudio Rosa, Eder Jofre, transmitindo uma sensação de orgulho e empolgação para o povo brasileiro.

Eu, com meus 14 anos, fui até a sala da casa de meus avós, na pequena e ensolarada Bebedouro, e como de hábito liguei o rádio e sintonizei meu programa favorito o “Pick-up do Pica-Pau”, concebido e conduzido pelo inesquecível Walter Silva. Nessa época, eu já era movido à música, nem sei a causa, pois minha família era constituída basicamente por graduados em medicina.

Após ouvir os hits da época, que não me empolgavam muito, interpretados por  Cauby, Nelson Gonçalves, Anísio Silva e Dalva de Oliveira, ouço algo totalmente diferente e contagiante. Era um cantor e violonista baiano chamado João Gilberto, interpretando “Chega de Saudade”, composição do nosso grande maestro e compositor de sambas canção Tom Jobim, com letras do poetinha e diplomata Vinicius de Moraes e fiquei extasiado...







Tive esta  mesma sensação aos 18 anos, época que estudava no ITA (e ainda não sabia as conseqüências de uma ditadura militar), e... não sei como, apareceu em meu apartamento um livro de “um tal” de Jean Paul Sartre chamado “A idade da razão”. Eu, com ciências exatas encravadas na pele e totalmente avesso aos livros de leitura obrigatória no tempo de ginásio (O Guarani, Iracema...), li, devorei e amei “A idade da razão” e com este impulso misterioso fui “obrigado” a conhecer toda obra de Sartre.



Após ouvir “Chega de Saudade”, apesar de não ser músico, minha vida musical mudou. Queria conhecer mais sobre a bossa nova, sua origem, influências e limites. Foi assim que descobri o jazz, que para mim, com minha ingenuidade interiorana achei que era a bossa nova norte-americana.

Fui atrás... e coincidentemente, no final da década de 50, na pequena e simpática Itapetininga durante aqueles bailinhos de fim de semana, que aconteciam na casa das filhas de pais casamenteiros, eu dançava, sonhava e amava ouvindo “Misty” com Johnny Mathis.






Misty??? Quem foi o gênio que teve a sensibilidade para compor esta música tão empolgante e contagiante? Descobri que foi “um tal” de Erroll Garner (a letra é de Johnny Burke), compositor e pianista de jazz que, tal como Durval Ferreira e Johnny Alf na Bossa Nova, nunca tiveram o devido reconhecimento e valorização pela obra que conceberam. Muitos críticos americanos não consideram Erroll Garner um compositor e pianista de jazz.

“Look at me”... Erroll Garner nasceu em 15/06/21 em Pittsburg e faleceu de câncer no pulmão em 02/01/77 em Los Angeles. Nunca aprendeu a ler música e suas principais influências foram os pianistas Fats Waller, Art Tatum e Earl Hines.

Sua obra prima e considerado um dos melhores álbuns de jazz é “Concert by the sea” (do selo Columbia n.700.801/2-451042), gravado ao vivo em 19/09/55 na cidade de Carmel, Califórnia o que lhe rendeu o título de “Músico do ano” pela conceituada revista de jazz Down Beat em 1958. Erroll Garner estava muito bem acompanhado por Eddie Calhoun no baixo acústico e Denzil Best na bateria, e os melhores momentos do CD ficam para as faixas I'll remember April, Teach me tonight, April in Paris e Where or when. Simplesmente imperdível...











Desde então, fui irremediavelmente contagiado pelo ”vírus do jazz”, e felizmente continuo portador do mesmo até os dias de hoje.

25 de junho de 2010

MILES DEWEY DAVIS JR. - MILES DAVIS

Deus existe?!? Eu, como ex-engenheiro, considero-me leigo para analisar e discutir assuntos filosóficos, metafísicos e teológicos, mas no domínio do jazz conheço um pouquinho.

Sim, no mundo do jazz Deus existe... e seu perfil assemelha-se ao seguinte:
  • Gênio do trompete, criativo ao extremo, inovador e sem restrições a gêneros musicais.
  • Charmoso, como um Alain Delon azul-marinho, fashion, artista plástico e seguidor do cubismo nas horas vagas como fã incondicional de Pablo Diego.
  • Além de ser difícil e complexo tocar um instrumento de sopro, ele tocava trompete mascando algo parecido com chiclete... e sem prejudicar a qualidade do som!!!
  • Voz cavernosa, marcante e inconfundível, falando como se fosse em E.T., e suas mãos de baixista acústico pareciam galhos de uma árvore sobrevivente ao rigor do inverno siberiano.
  • Altruísta, dedicava seus shows aos jovens músicos que o acompanhavam e regia seus shows de costas para o público, mas de frente para seus músicos como fazem os grandes e talentosos maestros.
  • Sem limites, apresentava-se em shows de rock contaminando, envolvendo e hipnotizando plateias que nem sabiam o que era jazz.
  • Pesquisador e perspicaz, descobria, incentivava e lançava para o mundo do jazz meninos de 19 a 21 anos que hoje são nossos grandes ícones do jazz: Herbie Hancock, Keith Jarrett, Chick Corea, Ron Carter, Dave Holland, Wayne Shorter, Airto Moreira...
  • Admirado e respeitado por todos no mundo do jazz (exceto Wynton Marsalis e Dave Brubeck), não admitia ensaios, pois para ele a essência do jazz exigia improvisações no palco.
  • Concebeu e gravou sem ensaios o melhor CD de jazz de todos os tempos, coincidentemente o mais vendido na história do jazz, "Kind of Blue" lançado há exatos 51 anos.





Conheci a música de Miles na década de 1950, durante minha adolescência, o que despertou meu interesse pelo gênero musical. Em Itapetininga, após 22h00 a cidade fechava para balanço geral... era o horário de "recolher", pois as meninas tinham que voltar para casa afim de que seus pais garantissem suas virgindades... noturnas. Logo após tomar um copo de cerveja faixa azul e comer uma fatia de pizza mussarela com meus amigos, eu também voltava para casa, pegava a chave em baixo do capacho ao lado da porta e corria para meu quarto para ouvir a Rádio Eldorado.

Inesquecível, o show começava às 23h00: Hoje é Noite de Jazz ou Música Popular Norte-Americana, e Miles sempre participava interpretando aquelas "cool": Stella by Starlight, My Funny Valentine e Round Midnight, então... fui apresentado a Deus graças à Rádio Eldorado.








Miles Dewey Davis Jr. nasceu em 26 de maio de 1926 em Alton, Illinois, de uma família relativamente rica, filho do dentista  Dr. Miles Davis II. Sua mãe, uma talentosa pianista de blues, queria que Miles aprendesse piano, mas ao ganhar um trompete de seu pai aos 13 anos seu destino foi traçado.

Em 1944 o grupo de Billy Eckstine foi tocar em St. Louis acompanhado por Dizzy Gillespie e Charlie Park, e Miles aos 18 anos participou como terceiro trompetista durante algumas semanas... assim começou seu envolvimento com os famosos jazzistas da época.

Logo após, muda-se para Nova York e, em 1948, começa a trabalhar com Gerry Mulligan, Lee Konitz e conhece seu grande parceiro Gil Evans, com quem colaboraria pelos próximos vinte anos.

Entre 1950 e 1955, Miles gravou com grandes nomes do jazz, tais como: Thelonious Monk, Sonny Rollins, Charles Mingus, Milt Jackson, mas devido ao uso abusivo de drogas ficou marginalizado e considerado irresponsável.

De 1955 a 1957, Miles concebeu seus famosos quintetos e sextetos com Coltrane, Cannonball, Paul Chambers, mas a heroína consegue desestruturar o grupo. Entretanto, eles voltam em 1959 para gravar a obra-prima do Jazz "Kind of Blue".

De 1957 a 1963, Miles gravou uma série de álbuns famosos com o compositor e arranjador Gil Evans: Miles Ahead, Porgy and Bess, Sketches of Spain. Em sua autobiografia Miles menciona "meu melhor amigo foi Gil Evans".

De 1964 a 1968, Miles gravou seu último álbum acústico "E.S.P." e logo após o piano elétrico e guitarra foram introduzidos, com experimentações com ritmos de rock, iniciando a fase "fusion" de Miles.



Entre 1968 e 1975, Miles gravou dois álbuns marcantes "In a Silent Way" e "Bitches Brew", com imensa vendagem e alcançando o disco de ouro (meio milhão de cópias vendidas), concebendo as primeiras fusões entre o jazz e o rock que seriam comercialmente bem-sucedidas.


Após o Festival de Jazz de Newport em julho de 1975, Miles afastou-se do público por seis anos, caracterizando essa fase como "época colorida", esbanjando dinheiro com mulheres, sexo e drogas.

Em 1986, Miles grava com Marcus Miller o álbum "Tutu", utilizando ferramentas modernas de estúdio como sintetizadores programados e samples, criando uma nova modalidade de tocar.



Após "Tutu", influenciado por "Sketches of Spain", Miles lança "Amanda" com Miller e George Duke, conseguindo elogios da crítica especializada.

Suas últimas gravações, lançadas postumamente, foram o álbum "Doo-Bop" com influências do hip-hop e "Miles & Quincy Live at Montreux", lançado no Festival de Montreux com Miles interpretando suas gravações dos anos 1960 pela primeira vez em décadas.



Miles nos deixou em 28 de setembro de 1991 por AVC, pneumonia, insuficiência respiratória, em Santa Mônica, Califórnia, aos 65 anos.