É difícil, é muito difícil eleger o melhor entre os melhores, e escolher o maior entre os maiores. A tendência natural é permanecer em cima do muro e eleger um elenco dos melhores e maiores... mas tomando o devido cuidado para não acusar quem é o melhor e o maior.
Após mais de 30 anos em cima do muro, finalmente consegui eleger Andorinha, gravada originalmente no álbum Stone Flower como a melhor composição de Tom Jobim, o que foi um alívio para mim.
No mundo do jazz, que é meu gênero musical favorito, para eleger o melhor realmente é necessário muita coragem... enfim, meus ídolos estão sempre desfilando em todos ambientes que frequento, e como sempre todos se superando musicalmente.
Ao piano Oscar Peterson, Bill Evans, Keith Jarrett e Herbie Hancock, ao sax Ben Webster, Coleman Hawkins, Lester Young, Dexter Gordon, Charlie Parker, John Coltrane, Sonny Rollins e Wayne Shorter, ao trompete Lee Morgan, Miles Davis, Chet Baker e Freddie Hubbard, cantando Billie Holiday, Sarah Vaughan e Johnny Hartman. E agora...
Vou ter que respirar fundo, ser ousado e eleger o gênio do sax tenor John Coltrane como meu ídolo e colocá-lo em uma posição de destaque com relação aos outros gênios do jazz.
Como sempre, fui apresentado ao John Coltrane naquela mesma lojinha da Rua 7 de Abril onde também conheci Charlie Parker. Um LP de capa preta intitulado "Stardust" gravado em 1963, ouví e amei desde a primeira vez aquele sopro envolvente, contagiante e um pouco hipnótico.
As pessoas quando telefonam ao All of Jazz no período diurno, antes de terem o prazer de falar com minha secretária eletrônica ouvem Coltrane interpretando Say it, over and over again, obra prima que está presente em meu álbum favorito de Coltrane intitulado "Ballads" e gravado em 1962.
John William Coltrane nasceu em 23 se setembro de 1926 em Hamlet, na Carolina do Norte, filho de um alfaiate que tocava violino e de uma doméstica que cantava no coral da igreja.
Na banda da escola tocava clarinete, mas decide trocá-lo pelo sax alto após ouvir Johnny Hodges tocando na banda de Duke Ellington. Após voltar da Marinha em 1946, Coltrane começa a tocar em diversos bares e clubes em Filadélfia, adquirindo então o vicio pelo álcool e heroína.
Em 1949, recebe convite de Dizzy Gillespie para tocar saxofone em sua Big Band, onde permanece até 1951.
Em 1955 recebe convite de Miles Davis para integrar um novo grupo que Miles estava formando, com o pianista Red Garland, o baixista Paul Chambers e o baterista Joe Jones, constituindo assim o famoso Miles Davis Quintet. Em 1957 Coltrane é demitido por Miles e forçado a parar de tocar devido seus problemas com drogas, sendo então substituído por Sonny Rollins.
Em 1959, Coltrane volta ao grupo de Miles Davis gravando o álbum "Kind of Blue," considerado o melhor e mais influente CD da história do jazz e coincidentemente também é o CD de jazz mais vendido em todos os tempos.
Em 1960 Coltrane deixa o grupo de Miles Davis e lança o LP "Giant Steps" com todas composições de sua autoria, apresentando um novo conceito de uso harmônico, conhecido mais tarde como Coltrane Changes. Várias faixas deste álbum tornaram-se standards, tais como Naima, Giant Steps, Cousin Mary, Mr.P.C., esta em homenagem ao amigo baixista Paul Chambers.
No final de 1960, inspirado na peça da Broadway The Sound of Music, Coltrane lança o álbum "My Favorite Things" (uma valsa de Rodgers & Hammerstein), tornando-se um grande sucesso, em uma época em que o sax soprano estava se tornando obsoleto, mas Coltrane demonstrou com ele uma inventiva habilidade para o idioma do jazz.
Em 1962, Coltrane grava o meu álbum favorito Ballads, cuja versatilidade é demonstrada pela nova roupagem que Coltrane deu aos antigos standards, tocando seu sax tenor, muitas vezes com som de sax soprano.
Em 1964 o lado religioso e espiritual de Coltrane o conduziu a gravar o álbum "A Love Supreme", baseado em poemas que Coltrane ofertou a Deus, alcançando um grande sucesso comercial. A Igreja Ortodoxa Africana Saint John Coltrane em São Francisco considerou Coltrane como santo em 1971, incorporando às orações religiosas sua música e seu poemas.
Coltrane faleceu de câncer no fígado em 17 de julho de 1967 aos 40 anos. Coltrane se tratava com um curandeiro hindu ao invés de recorrer a medicina convencional.
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